Pular para o conteúdo principal

O conjunto do que o amor nos faz

Quem somos nós?

As memórias do que vivemos, o medo do que ainda não conhecemos ou a certeza do que já conquistamos?

Como conseguimos ser tantos dentro de um só desenho? Como uma carcaça contaminada e moribunda carrega dentro de si tanta vida e a alma de alguém que nunca vai morrer? Pq no fundo é isso. Não somos como nos parecemos. Não somos quem dizemos ou desenhamos ser.

Somos o invisível. O abstrato. O paladar que anseia pelo doce e abomina o azedo. O ouvido que assim como o resto do corpo foi crescendo de gosto e desobedeceu a si mesmo tantas vezes. Ouviu o rock mas sussurrou um axe. Se entregou ao punk, mas chorou com sertanejo. Decorou o rap mas se pegou destruído, assobiando um pagode.

Somos por fim a descoberta de que sempre estávamos errados? Ou apenas um labirinto que de começo parece rápido de desvendar? Um caminho sinuoso que pensamos ser fortes o suficiente pra trilhar sozinhos. Ingênuos batendo nos próprios peitos bravejando nossos currículos extensos. Como se os desafios fossem enfrentados pelo que trazemos em nossas mãos, o que com elas podemos conquistar.

E como somos infelizes por pensar assim. Acontece que a gente precisa errar pra abaixar o queixo e entender que não tem coroa nenhuma pra cair. O que temos sim são mãos vazias, machucadas e manchadas por nossas decisões precipitadas. E o que define o que somos é exatamente esse momento de encontro frustrante com nossa alma envelhecida e cansada.

É quando olhamos em volta e percebemos que toda a auto suficiente tão meticulosamente anunciada se derrete com a voz que fala do outro lado da linha. No momento que percebemos que aquelas mãos enrugadas e trêmulas que seguram o telefone - e antes seguravam todos os nossos corpos e sonhos - são as verdadeiras responsáveis por te segurarem em pé. Quando nos percebemos vulneráveis ao amor. Quando aceitamos que alguém segura nosso coração nas mãos e é capaz de esmaga-lo quando quiser. Somos o momento que decidimos correr o risco. O risco de assumir que somos na verdade, o conjunto do que o amor nos faz. Das pessoas que nos amam e nos carregam em suas mãos. Não somos quando estamos sós. Somos em plural. Tanto na presença quanto na ausência.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Vida em metamorfose

- É a vida meu amigo, a vida em metamorfose. - Disse o homem alto que escondia todos os seus sentimentos - e dinheiro - por trás de uma muralha de terno e gravata. -Nem venha comparar com a transformação de uma borboleta, ou com o crescimento mental ou físico de alguém. A vida tem se metamorfoseado da forma mais triste possível. - Respondeu o homem mais velho, de pele enrugada e unhas sujas de terra. O chapéu de palha já lhe parecia uma segunda pele, seu companheiro fiel que o protegia do sol durante a colheita. - Como triste? Tudo que você precisa é prestar atenção às placas! Não pare! Fume! Corra! Viva! -Viva? - Perguntou de forma singela o homem do mato enquanto dava um sorriso cheio de rugas e cansado. Como? Essa pergunta causou uma certa inquietação no engravatado, que já batia os pés e olhava constantemente no relógio. Bufando, respondeu: - Oras, como... Como se deve viver! Trabalhar, ganhar dinheiro, viajar... Nesse momento o homem do mato mudou sua expressão, parecia...

Se decidirmos, nós sempre ficaremos com os amores de nossas vidas.

Meus amigos do facebook compartilharam aos montes um texto sobre como as vezes o amor de nossas vidas escapa pelos nossos dedos. Que me desculpem os fatalistas, mas não consigo participar desse grupo de pessoas que acredita que amor é essa loucura sobrenatural que nos tira da realidade. Não consigo crer que ele vai me trazer arrepios e que dentro dele as borboletas nunca vão deixar meu estômago. Não consigo ver amor na emoção a flor da pele, no toque eletrizante, na tremedeira da insegurança. Acredito que isso seja paixão. E paixão, meu bem, nunca colocou aliança no dedo de ninguém. Vivemos numa geração que minimiza e objetiva praticamente tudo que se possa comercializar. Fomos convencidos que de que somos o centro do mundo, de que nossa felicidade é a mais plena regra que deve reger o universo, que estamos vivos e isso é tudo. Desaprendemos a consertar as coisas, abraçamos de olhos fechados a obsolescência programada, enjoamos das coisas, das pessoas e dos sentimentos com a mesma ...

Hoje não

Normalmente eu só preciso de uma frase perfeita pra continuar um bom texto. Normalmente, não hoje. Hoje não é um dia normal. Normalmente eu gosto de falar sobre pessoas fictícias. Normalmente, não hoje.  Normalmente eu gosto simplesmente de falar. Falar e falar. Normalmente, hoje não. Mas o engraçado, é que todos os dias não tem sido dias normais. Tenho amado como nunca amei antes. Normalmente, escreveria sobre isso. Sobre ele. Os olhos dele, os lábios, sorriso, tudo dele. Se fosse eu mesma, escreveria sobre a tremedeira que seu olhar me dá. Escreveria sobre os arrepios e sorrisos que seus beijos causam. Normalmente, mas hoje não. Se fosse eu, abriria mão de estilos literários pra escrever sobre um grande amor. Finalmente, o meu amor. Mas não quero ser eu. Não quero fazer as coisas que eu normalmente faria. Hoje não. Hoje vou ser o seu amor. Hoje vou escrever pra você. Não importa quem você seja. Sinta-se em casa, sinta-se com o seu próprio amor. Sinta-se amado. Tenho aprendido...