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Batidas alheias

- É dificil escolher, odeio opções! - Esperneava a mocinha agoniada encarando seu relógio de bolso que parecia ignorar a pressa alheia e indo devagarzinho, no seu tempo tic-tacando. O cabelo envolto num coque já desfiado era dourado feito ouro, e a maquiagem outrora tão bem feita, já escorria deixando o contorno dos olhos um tanto mais escuro. Olhou em volta mas, por mais que tentasse, não se lembrava como havia parado ali, naquela sala vazia de piso xadrez e um lustre enorme que balançava lentamente com a brisa que dançava pela cortina empoeirada. Com os dentinhos irregulares mordia os lábios e olhava cuidadosamente cada centímetro do lugar. Ainda tentava agir normalmente e ignorar o fato de que seu relógio de bolso, deixado como herança de seu aconchegante vovô, acabara de lhe dizer a frase por ela mais temida: Você tem que escolher. Não sabia onde estava, não ardia a certeza nem mesmo de quem era, quanto mais o que queria! Resolveu tomar coragem, olhar aquele relógio bem nos o...

A Vida em metamorfose

- É a vida meu amigo, a vida em metamorfose. - Disse o homem alto que escondia todos os seus sentimentos - e dinheiro - por trás de uma muralha de terno e gravata. -Nem venha comparar com a transformação de uma borboleta, ou com o crescimento mental ou físico de alguém. A vida tem se metamorfoseado da forma mais triste possível. - Respondeu o homem mais velho, de pele enrugada e unhas sujas de terra. O chapéu de palha já lhe parecia uma segunda pele, seu companheiro fiel que o protegia do sol durante a colheita. - Como triste? Tudo que você precisa é prestar atenção às placas! Não pare! Fume! Corra! Viva! -Viva? - Perguntou de forma singela o homem do mato enquanto dava um sorriso cheio de rugas e cansado. Como? Essa pergunta causou uma certa inquietação no engravatado, que já batia os pés e olhava constantemente no relógio. Bufando, respondeu: - Oras, como... Como se deve viver! Trabalhar, ganhar dinheiro, viajar... Nesse momento o homem do mato mudou sua expressão, parecia...

Eu

A lua e as estrelas me remetem aquele dia, aquele momento, em que por reconhecer a beleza das coisas simples você me fez sorrir pela primeira vez. Fez meus olhos brilharem pela primeira vez. Num ato quase involuntário sua voz passou pelos meus ouvidos e era como se fizesse cócegas em todo meu corpo até que, inevitavelmente, eu sorri. Aquele sorriso bobo, gostoso, que vem acompanhado de olhos brilhantes que gritam sentimentos. E foi assim, foi ali. Ali que você me ganhou por inteira. Percebi imediatamente que queria essa voz me acariciando todos os dias antes de dormir, queria essa risada eletrizante me eletrizando, queria te ver amar e ser objeto do seu amor. E tudo ali, debaixo do brilho da lua e das estrelas que comparadas ao seu brilho parecem tão opacas. É incompreensível como o amor acontece em questão de segundos e toma tudo da gente: Nossos pensamentos, nosso tempo, nossos sorrisos, nossas lágrimas, nossos beijos, nossos abraços, nossa dor, nosso fim, nosso começo, nosso eu. E...

Hoje não

Normalmente eu só preciso de uma frase perfeita pra continuar um bom texto. Normalmente, não hoje. Hoje não é um dia normal. Normalmente eu gosto de falar sobre pessoas fictícias. Normalmente, não hoje.  Normalmente eu gosto simplesmente de falar. Falar e falar. Normalmente, hoje não. Mas o engraçado, é que todos os dias não tem sido dias normais. Tenho amado como nunca amei antes. Normalmente, escreveria sobre isso. Sobre ele. Os olhos dele, os lábios, sorriso, tudo dele. Se fosse eu mesma, escreveria sobre a tremedeira que seu olhar me dá. Escreveria sobre os arrepios e sorrisos que seus beijos causam. Normalmente, mas hoje não. Se fosse eu, abriria mão de estilos literários pra escrever sobre um grande amor. Finalmente, o meu amor. Mas não quero ser eu. Não quero fazer as coisas que eu normalmente faria. Hoje não. Hoje vou ser o seu amor. Hoje vou escrever pra você. Não importa quem você seja. Sinta-se em casa, sinta-se com o seu próprio amor. Sinta-se amado. Tenho aprendido...
Que me desculpem aqueles que não sabem amar mas, não consigo escrever sobre outra coisa se não o amor. Mentiria se dissesse que sempre sinto os sentimentos que escrevo mas, a magia de escrever é essa. É ser tão amante do amor que posso escrever sobre ele mesmo quando a situação de minhas personagens não  sejam uma projeção de minha vida pessoal.  Aprecio. Observo. Absorvo. Sinto-o só de olhar outro alguém senti-lo. Sonho com a possibilidade de fazer você, leitor, senti-lo mesmo que por um instante. Enquanto vive a vida dessas pessoas que vivem em minha imaginação. Desses apaixonados que querem te contar uma história de amor. Talvez, das mais improváveis, talvez, tão próxima a sua realidade. Seja como for, quero dividi-los com você. Dividir esse meu título de "eterna apaixonada" e esse sentimento de amar ao ver o amor. Afinal, uma dose deste sempre cai bem.  Sim, atendo por esse título. Eterna apaixonada. Por tudo e por todos. Sem dúvida, tenho um sério caso de amor ...

Ser plural

Ombro, pescoço, bochechas. Esse era o caminho que a pontinha de seu nariz fazia enquanto entrelaçava os dedos com os dele e se aconchegava ao cheiro de suas roupas. Aquele cheirinho tão dele, tão dela. Sorria tanto que os músculos de sua bochecha doíam e era inevitável tal reação. As sensações que ele causava nela, o coração que batia forte, a respiração sempre ofegante e as borboletas passeando pelo seu corpo só podiam ser expressadas de uma forma: Um sorriso. Nunca ninguém tinha sido melhor companhia que aquela. Talvez, pouquíssimas vezes tinha sido tão feliz ao lado de alguém. Estava no lugar certo, no ombro certo, pela primeira vez em toda sua vida e lá dentro, no fundo do seu coração desejava que fosse assim por todos os dias que viriam. Desejava aquele sorriso em todas as suas manhãs, aqueles beijos em todas as suas noites, aquele abraço em todas as lágrimas, aquela mão na sua em todas as caminhadas, aquelas roupas dividindo espaço no seu armário, os livros de cálculo ...
 - Eu amo você. Ela disse enquanto olhava seus próprios olhos no reflexo do espelho. Há pouco aprendera a conviver tão bem com o próprio eu, em seus defeitos e qualidades. A maquiagem marcava seus olhos enquanto eles brilhavam ao contemplar a imagem de sua boca vermelha tão caprichadamente pintada. Por trás de todo o pó, os olhos eram um pouco fundos, marcados de alguém que chorara muito por amor.  Mas dessa vez era diferente. Decidiu que investiria no único amor que só dependia dela pra dar frutos: O amor próprio. Afinal, quem não ama a si mesmo, não é capaz de amar outro alguém. E muito menos entender e aceitar os motivos pelos quais este outro alguém, devolve tamanho amor.