- É dificil escolher, odeio opções! - Esperneava a mocinha agoniada encarando seu relógio de bolso que parecia ignorar a pressa alheia e indo devagarzinho, no seu tempo tic-tacando. O cabelo envolto num coque já desfiado era dourado feito ouro, e a maquiagem outrora tão bem feita, já escorria deixando o contorno dos olhos um tanto mais escuro. Olhou em volta mas, por mais que tentasse, não se lembrava como havia parado ali, naquela sala vazia de piso xadrez e um lustre enorme que balançava lentamente com a brisa que dançava pela cortina empoeirada. Com os dentinhos irregulares mordia os lábios e olhava cuidadosamente cada centímetro do lugar. Ainda tentava agir normalmente e ignorar o fato de que seu relógio de bolso, deixado como herança de seu aconchegante vovô, acabara de lhe dizer a frase por ela mais temida: Você tem que escolher. Não sabia onde estava, não ardia a certeza nem mesmo de quem era, quanto mais o que queria! Resolveu tomar coragem, olhar aquele relógio bem nos o...
"Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu. Estou hoje dividido entre a lealdade que devo À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro." Fernando Pessoa